segunda-feira, outubro 20, 2003

Não passará impune!

Apaixonei-me. Mais uma vez. Impús a mim próprio uma enclausura restrita, recolhida, proibira-me terminantemente de me apaixonar mais uma vez, fosse pelo que fosse.

Mas se uma paixão mundana ainda é facilmente "desviável", paixões mais sublimes por sua vez já não o são. A minha paixão é "literária".

Não, não me apaixonei pela autora em si, mas sim pela sua escrita, arrebatou-me por completo. E estas são as paixões que mais me assustam; porque se as pessoas são efémeras (ou não...) e há a certeza que eventualmente em algum ponto da sua existência nos vão desiludir, a escrita, quando é magnânime, é infinita, perpétua, e leva-nos para muito longe, muito longe, muito longe mesmo, para dentro do texto em si, para esse outro mundo, donde temo nao sair jamais... vontade certamente não me falta.

Seria injusto ler "A Natureza do Mal" e somente referir um dos seus escritores... mas este post é para si Sofia. Por muitas razões, por muitos sentimentos que despertaram em mim ao ler o que escrevera, por me ter causado um brilhozinho nos olhos e gritado em silêncio "LINDO" quando encontrou "o movimento do Outono", quanto mais não seja porque acordei às seis da manhã e não me permiti adormecer sem reler mais uma vez os seus textos.

Sinto aquela vergonha infantil de quem descobriu um mundo muito maior que o seu, e novo, e melhor, e que sabe nunca conseguir alcançar, sinto ser um ultraje tentar definir uma escrita que não tem descrição, usar termos "leigos" para a referir, sinto uma sincera vergonha de falar sobre essa escrita, eu não sou digno dela!

Mas esta fascinação não pode passar impune. E não passará!
E remeto-me à minha condição, e volto de onde parti, mas não sem antes dizer
Obrigado.

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