sábado, novembro 08, 2003

.: A luta estudantil, mais uma vez:. II

Desde o meu 3º ciclo que me esforço por ser alguém consciente do que se passa à minha volta, no âmbito da poí­tica educacional, não digo nem pretendo ser um "iluminado", mas quero saber pelo que luto, se vale a pena lutar, e como devo lutar.

E algo que tem sido uma constante é a mediatização prejudicadora das aspirações estudantis. E devo dizer que este ano tem sido a maior manipulação dos últimos anos, algo que me assusta e revolta, e que sinceramente não julgava ser possí­vel num paí­s democrático, pelo menos de uma forma tão violenta.

But hey, we're in Portugal... everything's possible...

Quando o ano passado se manifestavam os alunos à porta da DREC, foram entrevistados vários elementos associativos, nomeadamente da Associação de Estudantes da Escola Dona Maria, que relataram as nossas reinvindicaçõeses e, lembro-me perfeitamente, o tema da Educação Sexual foi o último a ser referido, porque não tinha a mínima importância relativamente a tudo o resto que qerí­amos ver discutido.

O que saíu nas fotografias e texto dos jornais foi que "os estudantes lutavam pela Educação Sexual [nenhuma referência a outras reinvindicações, ainda que esta tivesse sido propositadamente negligenciada para que esta situação não tivesse acontecido], enquanto jogavam às cartas e conversavam descontraídamente". Os alunos começaram a jogar às cartas depois de 5 horas de manifestação e luta, enquanto aguardavam pacificamente à porta da DREC que os seus representantes saí­ssem... mas não, os alunos não se tinham manifestado antes; nem têm outras reinvindicações para além da Educação Sexual. Os alunos querem faltar às aulas.

Isto se já é grave, não é tão grave como o que se passa actualmente. Os estudantes querem pagar propinas. Mas querem que esse dinheiro não seja extraviado para outras coisas (ver post "As minha propinas pagam") que não sejam referentes à Universidade em si. Querem que esse dinheiro seja investido no melhoramento das Universidades, querem que esse dinheiro seja para as bolsas, mas que as bolsas sejam justas e para quem de direito! Durão Barroso disse que "os estudantes têm de pagar para que quem não possa pagar estude também". Mas é mesmo isso que se verifica? O dinheiro não vai parar às Universidades, e eu tenho colegas com bolsas de estudo de SEIS CONTOS. SEIS CONTOS!!! Isto revolta-me. Revolta-me olhar para as pessoas e vê-las a desesperar, ver-lhes os olhos humedecidos, dispõe-se a fazer qualquer coisa desde que trabalhem, porque sem bolsas e sem trabalho não conseguem pagar os estudos, e eles querem estudar, e não, NÃO ANDAM OCUPADOS A SAIR À NOITE E A EMBEBEDAREM-SE E A SEREM IRRESPONSÁVEIS como a comunicação social e os opinion makers querem que se pense.

A imagem que querem que passe é que o grito de guerra do estudante é "não queremos pagar propinas". Ainda que o estudante grite outras coisas, ainda que o estudante reinvindique um rol infindável de outras coisas, ainda que o estudante grite que não quer é pagar propinas que não revertam para os colegas que não podem pagar, a única mensagem que sai (tal como em tempos saí­a apenas a mensagem da "Educação Sexual") é que os estudantes não querem pagar porque são irresponsáveis e querem gastar o dinheiro é em gajas bebidas e mais nada.

E as sondagens? "Uma sondagem vale o que vale". Pois. Quando dizem que dois terços dos pais e alunos não se importam de pagar propinas, falta o resto. O resto que muda todo o sentido da expressão. Não se importam de pagar propinas se elas forem efectivamente parar ao sí­tio correcto e utilizadas correctamente. Mas não. Tudo isto para fazer passar que as reinvindicações estudantis são apenas "birras" de um pequeno bando de incompetentes bêbados e irresponsáveis e egoístas. O que não é verdade.

E o problema é que esta campanha contra o estudante encurrala-o. O estudante sente-se descredibilizado, e consequentemente levado a tomar certas atitudes que se não são as mais correctas ao menos chamam a atenção para o estudante e para a sua luta. Infelizmente, mal haja um estudante que se faça ouvir, é imediatamente descredibilizado pela comunicação social.

E não, não defendo que um dirigente associativo diga que se recusa a falar com a ministra do Ensino Superior; nem defendo que se tenha fechado a Reitoria em Coimbra; nem que tenham insultado o Reitor. Quero apenas tentar chamar a atenção para que está a ser construída uma "barreira" ("a thin red line") que impede que as verdadeiras reinvindicações estudantis cheguem a quem tem poder para tomar decisões, e à opinião pública, que fica à  mercê das cogitações de quem não quer deixar arrefecer o lugar que tomou. Enquanto não se quebrar essa barreira, toda e qualquer manifestação estudantil vai ser filtrada e adulterada, e cair em "águas de bacalhau".

Demagogias não obrigado.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?