terça-feira, janeiro 27, 2004

Afinal, Darwin não morreu

Eram 3h45 da manhã. Estávamos na Associação, a estudar o porquê da feijoada ser uma realidade metafísica e as teorias de Darwin, Viaud, Ruwet, Lorenz e Tinburgen.

Sentados frente a frente.
Os teus olhos já tinham encontrado os meus uma série de vezes, mas, tímidos, escondiam-se atrás de ti ao mínimo sinal de aceitação; às vezes abrias a boca para me dizer o que realmente querias, mas mudavas de assunto e coravas, e perguntavas o que quer que fosse, qualquer coisa valia para camuflar a tua intenção.
Eu sorria, com a importância desmedida que me davas. Coravas um bocadinho mais, e voltavas a ti e às fases de Bernard.
Discutimos Darwin. Defendias que Darwin estava "morto". Eu defendia que não ("E o Neo-Darwinismo?").

O tempo passava, e eu cada vez mais dava razão a Darwin. "Variações individuais aleatórias: as diferenças entre os indivíduos tornam a adaptação ao meio ou mais fácil ou mais difícil, e provocam diferenças nas hipóteses de sobrevivência"; e a capacidade que te faltava de exteriorizar o que te ia na alma, estava a diminuir seriamente as hipóteses de sobrevivência de tudo o resto.

Toca o telemóvel. "Mensagem, a esta hora?", pensei.

E foi entre sebentas (aparentemente) infindáveis e apontamentos de Biologia e Genética que li «Na busca de um amor perco-me, na busca do amor dos meus nunca mais voltei, na busca de pares sinto-me só, na busca de minha casa desencontro-me, na busca de mim mesma quero esquecer-me, e na busca de esconder-me noutras dimensões, mato-me! A minha vida! Devia era buscar (n)outra vida... não sei quem me perdeu!"... assinavas ainda, "Desabafo de mim, beijos doces... "Gosto de ti todos os dias..."... Forever, gravado a ouro no meu coração...»

O meu telemóvel vive para estes momentos.
Estás a uma mão dada de distância, e no entanto mandaste-me uma sms. Levanto a cabeça, olho para ti, e nem desvias o olhar do que escreves, mas sorris para o papel.

Como vês, Darwin não está morto. E o telemóvel, como "falsa variação individual aleatória", facilitou a adaptação de ti ao meio, e aumentaste a hipótese de sobrevivência do "nós".


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