segunda-feira, janeiro 26, 2004

Clandestino

À bocado passei por um miúdo muito novo, da idade do meu irmão mais pequeno. O rapaz tem um ar amoroso, próprio dos 11 anos que ostenta. Muito inocente, de sorriso fácil. Um bocado traquinas, mas desculpava-se tudo, afinal era tão amoroso o rapaz. De repente, descobriu-se que os pais são traficantes de droga. E de um dia para o outro, os pais dos amigos do miúdo consideraram que ele não era traquinas, era "delinquente". O sorriso fácil, sempre aberto e para toda a gente, já não o era; é "falso" agora. O andarem na rua (ele e o irmão) já não era um exemplo de fraternidade, é "vadiagem". Os amigos afastaram-se todos dele. O ambiente em casa, cada vez pior. Mas agora o miúdo já não tem o irmão em quem se apoiar; a avó conseguiu ficar com um dos rapazes.

E o sorriso fácil, desapareceu por completo.

Hoje, chamei por ele, que nem quis acreditar. Perguntei-lhe se estava tudo bem e apertei-lhe a mão, e incrivelmente o rapaz sorriu como eu já não via à muito tempo. Trouxe-o para almoçar cá a casa, e ele ficou a brincar como o meu irmão até que foram os dois para a escola. Clandestinamente, continuam amigos. Clandestinamente, porque ao mudar de opinião (literalmente de um dia para o outro), os pais conseguiram fazer com que os miúdos sentissem que ser amigo dele era uma "actividade ilícita".

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