quinta-feira, janeiro 15, 2004
Uma questão pertinente
No O Divã de Portugal está um texto que eu achei muito pertinente. Para o lerem na íntegra é o "Liberdade de Opinião?", do dia 14 de Janeiro deste ano.
Resumidamente, o texto fala-nos do caso de um apresentador da BBC que foi despedido pela referida estação televisiva, em virtude de numa entrevista ter tecido comentários muito pouco abonatórios sobre o povo árabe. Depois o João disserta sobre a liberdade de opinião, sobre os estados democráticos, aborda até de uma maneira que poderia ser considerada polémica, a questão da ilegalização e criminalização dos partidos de extrema direita...
A meio do texto, ele escreve "A razão deste post não se prende com o teor da entrevista per si mas com as consequências que esta teve para o autor"
Mas o facto é que não se podem dissociar essas duas vertentes.
Mas vamos por partes:
Tal como aprendemos em Filosofia ou, mais concretamente, na vida em si... liberdade o caraças. Vivemos numa mentira, uma mentira volátil e em constante mutação, o que a torna por um lado mais credível, por outro mais cruel; vivemos numa falsa segurança, em falsas convicções, numa falsa liberdade. E a questão é, será que essa utopia de liberdade total seria desejável? E se chegarmos à conclusão que não o seria, será que é por estarmos tão confinados a esta nossa falsa liberdade?
Sinceramente, numa primeira instância, concordei totalmente com o texto do João.
Mas depois pensei... uma figura pública tem mais responsabilidades que o cidadão comum. Tem a capacidade de influenciar massas. E vejamos, por um lado, o apresentador foi contratado por uma empresa, uma empresa que se vê representada por ele. Ele segue as directrizes da empresa, e tem a sua liberdade no programa, mas novamente, uma falsa liberdade, porque só tem essa liberdade dentro dos trâmites da liberdade que a empresa lhe concede. (ando com uma vontade enorme de repetir as palavras, peço desculpa, mas é propositado) O apresentador é como um prolongamento da empresa, da imagem que esta tem ou quer transmitir, por isso se este for contra o projecto do empregador, contra aquilo para que foi contratado, não será legítimo o despedimento? A mim também não me parece justo, mas acho que é legítimo.
Por outro lado, o apresentador teceu comentários racistas em público. Que foram difundidos por todo o país. Provavelmente até mesmo por jovens em idade impressionável, que sigam tudo o que o "ídolo" deles diga ou faça ou diga e faça... E se no dia a seguir à publicação da entrevista fossem espancados árabes por causa disso? Ou mesmo que fosse uma outra atitude racista, talvez mais insignificante, não seria racista na mesma?
Como tudo na vida, temos árabes bons e árabes maus, temos boas e más empresas, bons e maus livros, temos o dia e temos a noite... não podemos generalizar...
Na minha opinião, é "perigoso" que figuras públicas se pronunciem de determinada maneira... porque uma coisa é discutir um problema, de forma civilizada e de forma aberta, defendendo até uma opinião mas corroborando-a com factos objectivos e deixando uma margem para que o receptor de tal argumentação possa reflectir, possa procurar mais informação, possa, enfim, ter a sua própria opinião. Custa-me compreender certas atitudes como, por exemplo, a última da Madonna, que em carta aberta à imprensa pediu a todos os fans e fãos (eheh) que votassem no General Wesley Clark... até pode ser a melhor escolha, mas a partir do momento em que a Madonna se pronuncia, tenho a certeza que milhares ou mesmo milhões de eleitores não vão querer formar a sua própria opinião sobre o assunto, e votam a favor ou contra, conforme os sentimentos em relação à artista. E isso não está correcto.
E ninguém despede a Madonna, porque ela rende dinheiro... agora o outro apresentador...
E temos também outro aspecto, ainda por causa da questão da ilegalidade e criminalidade dos partidos de extrema direita; se todas as figuras públicas expusessem as suas opiniões (fundamentadas ou não) racistas, o que é que provavlemente iria acontecer à nossa sociedade? Porque quando é um apresentador, não muito conhecido, é uma coisa, mas agora imaginem os Rolling Stones ou o Bush... o mesmo se passando não só com as opiniões racistas, mas também com as opiniões pró-extrema-direita.
Mas como o João disse, e muito bem, "A questão é bastante complexa e apresenta várias ramificações"... e espero que este meu texto sirva de reflexão, e que seja um acrescento à quantidade de informações que compilamos todos os dias, para formar uma opinião, a nossa opinião individual.
(e livre... or not...)
Resumidamente, o texto fala-nos do caso de um apresentador da BBC que foi despedido pela referida estação televisiva, em virtude de numa entrevista ter tecido comentários muito pouco abonatórios sobre o povo árabe. Depois o João disserta sobre a liberdade de opinião, sobre os estados democráticos, aborda até de uma maneira que poderia ser considerada polémica, a questão da ilegalização e criminalização dos partidos de extrema direita...
A meio do texto, ele escreve "A razão deste post não se prende com o teor da entrevista per si mas com as consequências que esta teve para o autor"
Mas o facto é que não se podem dissociar essas duas vertentes.
Mas vamos por partes:
Tal como aprendemos em Filosofia ou, mais concretamente, na vida em si... liberdade o caraças. Vivemos numa mentira, uma mentira volátil e em constante mutação, o que a torna por um lado mais credível, por outro mais cruel; vivemos numa falsa segurança, em falsas convicções, numa falsa liberdade. E a questão é, será que essa utopia de liberdade total seria desejável? E se chegarmos à conclusão que não o seria, será que é por estarmos tão confinados a esta nossa falsa liberdade?
Sinceramente, numa primeira instância, concordei totalmente com o texto do João.
Mas depois pensei... uma figura pública tem mais responsabilidades que o cidadão comum. Tem a capacidade de influenciar massas. E vejamos, por um lado, o apresentador foi contratado por uma empresa, uma empresa que se vê representada por ele. Ele segue as directrizes da empresa, e tem a sua liberdade no programa, mas novamente, uma falsa liberdade, porque só tem essa liberdade dentro dos trâmites da liberdade que a empresa lhe concede. (ando com uma vontade enorme de repetir as palavras, peço desculpa, mas é propositado) O apresentador é como um prolongamento da empresa, da imagem que esta tem ou quer transmitir, por isso se este for contra o projecto do empregador, contra aquilo para que foi contratado, não será legítimo o despedimento? A mim também não me parece justo, mas acho que é legítimo.
Por outro lado, o apresentador teceu comentários racistas em público. Que foram difundidos por todo o país. Provavelmente até mesmo por jovens em idade impressionável, que sigam tudo o que o "ídolo" deles diga ou faça ou diga e faça... E se no dia a seguir à publicação da entrevista fossem espancados árabes por causa disso? Ou mesmo que fosse uma outra atitude racista, talvez mais insignificante, não seria racista na mesma?
Como tudo na vida, temos árabes bons e árabes maus, temos boas e más empresas, bons e maus livros, temos o dia e temos a noite... não podemos generalizar...
Na minha opinião, é "perigoso" que figuras públicas se pronunciem de determinada maneira... porque uma coisa é discutir um problema, de forma civilizada e de forma aberta, defendendo até uma opinião mas corroborando-a com factos objectivos e deixando uma margem para que o receptor de tal argumentação possa reflectir, possa procurar mais informação, possa, enfim, ter a sua própria opinião. Custa-me compreender certas atitudes como, por exemplo, a última da Madonna, que em carta aberta à imprensa pediu a todos os fans e fãos (eheh) que votassem no General Wesley Clark... até pode ser a melhor escolha, mas a partir do momento em que a Madonna se pronuncia, tenho a certeza que milhares ou mesmo milhões de eleitores não vão querer formar a sua própria opinião sobre o assunto, e votam a favor ou contra, conforme os sentimentos em relação à artista. E isso não está correcto.
E ninguém despede a Madonna, porque ela rende dinheiro... agora o outro apresentador...
E temos também outro aspecto, ainda por causa da questão da ilegalidade e criminalidade dos partidos de extrema direita; se todas as figuras públicas expusessem as suas opiniões (fundamentadas ou não) racistas, o que é que provavlemente iria acontecer à nossa sociedade? Porque quando é um apresentador, não muito conhecido, é uma coisa, mas agora imaginem os Rolling Stones ou o Bush... o mesmo se passando não só com as opiniões racistas, mas também com as opiniões pró-extrema-direita.
Mas como o João disse, e muito bem, "A questão é bastante complexa e apresenta várias ramificações"... e espero que este meu texto sirva de reflexão, e que seja um acrescento à quantidade de informações que compilamos todos os dias, para formar uma opinião, a nossa opinião individual.
(e livre... or not...)