terça-feira, fevereiro 17, 2004
Elephant.....
Quase que se poderia dizer que "Elephant" é uma adaptação cinematográfica de "Crónica de uma morte anunciada", de Gabriel Garcia Marquez. Alex e Eric como Pablo e Pedro Vicario, e todo aquele massacre e todo aquele extremo a que se chegou, como Santiago Nasar. Com uma agravante; em momento algum Alex ou Eric desesperam como Pablo «Porra, primo, sabes lá como é difícil matar um homem, não fazes ideia!».
Perto do final do filme, Eric encontra Mr. Luce, o reitor do Liceu Columbine. E nesse momento quando a ferida já está aberta, Gus Van Sant tem a habilidade e a tenacidade de a abrir ainda mais, de a "escarafunchar", de entornar não umas gotas de álcool por cima dela, mas um frasco inteiro! Quando Eric lhe diz "tal como nós os dois, há muitos mais como nós por aí, e vou deixá-lo viver para que da próxima vez que um miúdo lhe vá contar que tem problemas na escola e que é perseguido, que o oiça e lhe dê atenção!". Mata-o a seguir.
Ainda mais perto do final do filme, o pai bêbado encontra John, o filho. John sabia que algo de mal se iria passar. Não estava surpreendido, nem particularmente chocado. Satisfeito com o aparecer do pai. O pai de John toca-lhe no braço, sem saber como tocar (n)o filho, e diz-lhe algumas palavras. De conforto? Talvez. Deixará de beber?
Talvez este pedacinho do filme nos tente fazer crer que podemos melhorar; mas interiormente sabemos que o pai de John vai voltar a beber. John sabe-o. O filme acaba com Alex a ameaçar matar o casal de namorados. A condição humana, o nosso dia a dia, o estado a que deixámos chegar as coisas, o mundo. A sociedade. Poderíamos mudar? Poderíamos mudar, mas não o faremos nem o conseguiríamos. A nível global, é uma situação irreversível.
Para quem viveu o trágico dia de 20 de Abril de 1999 no Liceu Colombine dos EUA, nada mais será como antigamente. Para todos nós que hoje saímos do TAGV, também não.
Perto do final do filme, Eric encontra Mr. Luce, o reitor do Liceu Columbine. E nesse momento quando a ferida já está aberta, Gus Van Sant tem a habilidade e a tenacidade de a abrir ainda mais, de a "escarafunchar", de entornar não umas gotas de álcool por cima dela, mas um frasco inteiro! Quando Eric lhe diz "tal como nós os dois, há muitos mais como nós por aí, e vou deixá-lo viver para que da próxima vez que um miúdo lhe vá contar que tem problemas na escola e que é perseguido, que o oiça e lhe dê atenção!". Mata-o a seguir.
Ainda mais perto do final do filme, o pai bêbado encontra John, o filho. John sabia que algo de mal se iria passar. Não estava surpreendido, nem particularmente chocado. Satisfeito com o aparecer do pai. O pai de John toca-lhe no braço, sem saber como tocar (n)o filho, e diz-lhe algumas palavras. De conforto? Talvez. Deixará de beber?
Talvez este pedacinho do filme nos tente fazer crer que podemos melhorar; mas interiormente sabemos que o pai de John vai voltar a beber. John sabe-o. O filme acaba com Alex a ameaçar matar o casal de namorados. A condição humana, o nosso dia a dia, o estado a que deixámos chegar as coisas, o mundo. A sociedade. Poderíamos mudar? Poderíamos mudar, mas não o faremos nem o conseguiríamos. A nível global, é uma situação irreversível.
Para quem viveu o trágico dia de 20 de Abril de 1999 no Liceu Colombine dos EUA, nada mais será como antigamente. Para todos nós que hoje saímos do TAGV, também não.