terça-feira, fevereiro 17, 2004

Elephant.

Em "Elephant" é-nos contada a história do que aconteceu dia 20 de Abril de 1999, no massacre no Liceu Columbine, nos EUA. Aliás, minto. Em "Elephant" não nos é contada história alguma. É-nos mostrado o que aconteceu, com um distanciamento "brechtiano", crú e brutal, sem juízos de valor, sem nada. Assim, simples e complexo ao mesmo tempo, fictício e real ao mesmo tempo, cheio e vazio, tudo e nada, como é a vida humana, como é a condição humana.

É, sem dúvida alguma, um dos melhores filmes que já vi, e também um dos mais brutais e pesados. Talvez, essencialmente e aparentemente ambiguamente, pela "leveza" e "superficialidade" com que nos são mostrados (mais uma vez, não confundir com "contados") os factos. As coisas acontecem, indo com a corrente, seguindo o fio inevitável (será mesmo inevitável?) da vida, do destino, fio esse tão banal como o dia a dia de cada um, como a vivência de cada um. As aulas, os namoros, o jogar futebol, o correr, o ler, o sair, o conversar, enfim, o viver. Contribui para essa "falsa leveza e superficial" maneira de mostrar o que se passou, o facto de ao longo do filme nenhuma personagem perguntar ou se perguntar a si própria o porquê de tudo aquilo. Como se todos soubessem que aquilo estaria para acontecer, e tivessem medo de se sentir culpados. Ou então, não o sabem que o são. Aliás, não o sabemos. Porque "Elephant" não é uma realidade americana. É uma realidade de todos nós.

O perguntar do "porquê?" fica remetido ao espectador, que ainda sente mais angústia e raiva, com o silêncio comunal dos personagens.

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