sábado, fevereiro 28, 2004
A minha guitarra
A minha guitarra é a minha melhor amiga. A minha guitarra está sempre (ou quase sempre) onde eu preciso, quando eu preciso. Se eu choro, ela chora comigo. Se eu sorrio, ela sorri comigo. Não é falsa, não é hipócrita, não é cínica, não mente. Não se deixa tocar melhor do que eu mereço, não faz de conta que toco melhor do que realmente toco. Quando preciso de treinar mais, ela faz-me ver isso. Quando a deixo de lado durante muito tempo, ela ressente-se; e quando volto a ela, por muito bem que a trate, por muito boa vontade que tenha, só se deixa tocar bem outra vez, depois de muito trabalho e de muito esforço que eu lá deixe. Até ela se sentir apreciada, até ela se deixar tocar. A minha guitarra é confidente. Não conta nada a ninguém. Não me engana e não se deixa enganar. A minha guitarra ouve-me, e é com muito prazer que eu a oiço. Às vezes a minha guitarra é o meu único ponto de abrigo. A minha guitarra é justa. A minha guitarra é honesta. Quanto mais lhe dou, mais ela gosta, e mais ela me dá a mim. Mas não lhe posso dar tudo de uma vez (nem que o quisesse, mesmo que o pudesse). E a minha guitarra faz-me ver isso. A minha guitarra ensinou-me isso. A minha guitarra encerra-me nela, sem me prender. A minha guitarra guarda o meu amor, e o meu amor por ti, e o meu amor por vocês. A minha guitarra não é esta, mas poderia ser. Confio na minha guitarra. Não confio em mais ninguém. Mãos no fogo por alguém? Nunca mais! Se queimadas, a minha guitarra ressente-se, e nunca mais se deixará tocar como dantes, para que eu nunca me esqueça do que ela me ensinou, e que se deixei queimar as mãos no fogo por alguém, não foi por falta de aviso. "Eu sei que me ia arrepender". (a minha guitarra avisou-me)