sexta-feira, março 05, 2004

III

Ia eu sossegadito pela rua fora, quando de repente me apercebo que estou ao lado de umas obras e à minha frente vão duas raparigas relativamente jeitosas. "Deixa-me cá prestar atenção, porque vai fazer-se arte", pensei. Mas o pedreiro estava distraído, e quando as viu, já elas quase tinham saído do campo de visão do pobre homem. Ele, em desespero, balbucia um tímido "Hmmm...era toda a noite no jacuzzi!!!" e, numa tentativa tão infrutífera como patética, engasga-se, produz uns sons esquisitos e imperceptíveis, e finalmente, com a voz a tremer, remata com "era tanto amor!".

Um pedreiro nunca se engasga. Nem hesita. E tem a expressão certa sempre. Mas estes dogmas foram todos pelo cano abaixo nessa tarde. Afinal, o pedreiro é apenas um homem como eu ou como tu, Zezé Camarinha. E também falha.

Naquela tarde, aquele pedreiro desonrou toda uma classe, toda uma história, toda uma tradição. Assim já compreendo a renovação que tem vindo a ser feita nos quadros dos pedreiros, com a implementação e integração de licenciados ucranianos e eslavos. Agora que já se esgotaram os piropos, que será melhor que um licensiado em Línguas ou um médico com uma grande cultura geral, capazes de enriquecer e ressuscitar esta língua "quase-morta"?

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