sábado, março 27, 2004
Jantar em família
Não costumava dar grande importância ao costume da "refeição em família". Um costume, um hábito, que sempre me parecera sobrevalorizado e demasiado imposto, ao qual não dava a mínima importância. Mas nos últimos tempos, em que são cada vez mais raros os momentos que passo em casa, e quase tão raras as noites consecutivas na minha cama, tenho tomado consciência da falta que o jantar em família me faz.
A primeira vez que reparei nisso foi quando, numa tarde destas, depois de uma noite inteira a tratar do texto de um comunicado que teria obrigatoriamente de estar pronto antes da conferência de imprensa da manhã seguinte, me sentei nas cantinas com um grupo de amigos, para almoçar. A certa altura parei de comer, olhei para eles, e emocionei-me brutalmente, ao que tive de responder, perante a incredulidade estampada na cara deles, que já não me lembrava da última vez em que tinha comido uma refeição "cozinhada", daquelas que se comem de garfo e faca, quentes, e em que posso estar descansado e sentado enquanto a saboreio. Mas, mais importante, era o estar acompanhado por alguém, durante a refeição.
A partir daí, sempre que posso e arranjo dez minutos de intervalo entre duas actividades distintas, vou ter com a minha mãe ao trabalho. Às vezes pedir dinheiro para as fotocópias, outras vezes para dizer um olá, outras para dizer a nota de uma cadeira, mas sempre, e sempre mesmo, para estar um bocadinho com ela. Para lhe dizer, em silêncio, que a amo acima de tudo, e que me custa muito vê-la tão esporadicamente (e eu moro na mesma casa que ela!).
Agora tento sempre ir jantar a casa. E irrita-me profundamente quando comem sem mim, quando não esperam um quarto de hora, porque me atrasei a entregar os papéis ou tive de ajudar na organização daquele simpósio na minha faculdade. Quando jantamos juntos fico muito melhor. Mais feliz, mais alegre. Levo sempre toneladas de novidades para contar, mas parece que nunca me querem ouvir. Isso irrita-me. Irrita-me que nestes escassos momentos de comunhão, deixem de me ligar porque naquele preciso instante é mais importante saber se o meu irmão quer só arroz, ou prefere arroz e batatas. Que "são decisões que têm de ser tomadas no momento" dizem eles (os meus pais). E eu fico piúrço. Quantos pais e mães se indignam porque os filhos não contam nada e se fecham, e não gostam de estar com eles? Eu amo os meus pais, eu quero imenso estar com eles, e quero contar-lhes cada bocadinho interessante da minha vida académica, e eles não me ligam.
Custa. Mas enfim. É quando o meu irmão decide que afinal quer puré, e eles nem sequer se lembram que me estavam a ouvir (estariam?) há 15 segundos atrás, que eu fecho a boca e me resigno, só voltando a abrir para enfiar o garfo com arroz. Mas de cada vez que olho para eles fico feliz mais um bocadinho, porque é muito bom comer com quem amamos.
A primeira vez que reparei nisso foi quando, numa tarde destas, depois de uma noite inteira a tratar do texto de um comunicado que teria obrigatoriamente de estar pronto antes da conferência de imprensa da manhã seguinte, me sentei nas cantinas com um grupo de amigos, para almoçar. A certa altura parei de comer, olhei para eles, e emocionei-me brutalmente, ao que tive de responder, perante a incredulidade estampada na cara deles, que já não me lembrava da última vez em que tinha comido uma refeição "cozinhada", daquelas que se comem de garfo e faca, quentes, e em que posso estar descansado e sentado enquanto a saboreio. Mas, mais importante, era o estar acompanhado por alguém, durante a refeição.
A partir daí, sempre que posso e arranjo dez minutos de intervalo entre duas actividades distintas, vou ter com a minha mãe ao trabalho. Às vezes pedir dinheiro para as fotocópias, outras vezes para dizer um olá, outras para dizer a nota de uma cadeira, mas sempre, e sempre mesmo, para estar um bocadinho com ela. Para lhe dizer, em silêncio, que a amo acima de tudo, e que me custa muito vê-la tão esporadicamente (e eu moro na mesma casa que ela!).
Agora tento sempre ir jantar a casa. E irrita-me profundamente quando comem sem mim, quando não esperam um quarto de hora, porque me atrasei a entregar os papéis ou tive de ajudar na organização daquele simpósio na minha faculdade. Quando jantamos juntos fico muito melhor. Mais feliz, mais alegre. Levo sempre toneladas de novidades para contar, mas parece que nunca me querem ouvir. Isso irrita-me. Irrita-me que nestes escassos momentos de comunhão, deixem de me ligar porque naquele preciso instante é mais importante saber se o meu irmão quer só arroz, ou prefere arroz e batatas. Que "são decisões que têm de ser tomadas no momento" dizem eles (os meus pais). E eu fico piúrço. Quantos pais e mães se indignam porque os filhos não contam nada e se fecham, e não gostam de estar com eles? Eu amo os meus pais, eu quero imenso estar com eles, e quero contar-lhes cada bocadinho interessante da minha vida académica, e eles não me ligam.
Custa. Mas enfim. É quando o meu irmão decide que afinal quer puré, e eles nem sequer se lembram que me estavam a ouvir (estariam?) há 15 segundos atrás, que eu fecho a boca e me resigno, só voltando a abrir para enfiar o garfo com arroz. Mas de cada vez que olho para eles fico feliz mais um bocadinho, porque é muito bom comer com quem amamos.