quarta-feira, maio 19, 2004
El Venezuelano espanholito
Tenho um amigo venezuelano que está há um ano e uns meses em Portugal, ao abrigo do programa Erasmus. Embora natural do país cuja capital é Caracas (o momentozito cultural de hoje foi este, aproveitem), cresceu em Barcelona e já fez Erasmus para Itália e Inglaterra. E tive com ele uma conversa que nunca sequer me tinha passado pela cabeça; pois ele foi o primeiro estudante de Medicina que me falou do curso com uma paixão e um amor à arte que é impensável nos dias que correm, que até então só imaginara quando li o "Deuses e Demónios da Medicina", de Fernando Namora. Aluno do 3º ano, dizia que os alunos de Medicina cá em Portugal são uma vergonha, que não sabiam nada, que ele achava vergonhoso que colegas do 4º ano não soubessem os princípios mais básicos ("eu comecei por fazer-lhes perguntas sobre assuntos mais complicados, mas como não sabiam nada falei-lhes dos básicos, mas mesmo assim não sabiam nada!"), os indispensáveis para a prática da Medicina. Justificava ele que esta falta de conhecimento derivava do "estudarem por dinheiro", que quem estuda por dinheiro nunca chegará a lado nenhum e que estes "futuros médicos" nunca serão aceites no estrangeiro. Ele falava nas inovações da Medicina nos Estados Unidos e na Inglaterra, ele falava na especialização recente que queria fazer, os olhos brilhavam quando ele pensava naquilo tudo. Dá que pensar.