quarta-feira, maio 19, 2004

Eu e Ela

"Cobertos de folhagem, na verdura,
o teu braço ao redor do meu pescoço,
o teu fato sem ter um só destroço,
o meu braço apertando-te a cintura.

Num mimoso jardim, ó pomba mansa,
sobre um banco de marmore assentados
na sombra dos arbustros, que abraçados
beijarão meigamente a tua trança.

Nós havemos de estar ambos unidos
sem gozos sensuais, sem más ideias,
esquecendo p'ra sempre as nossas ceias,
e a loucura dos vinhos atrevidos.

Nós teremos então sobre os joelhos
Um livro que nos diga muitas cousas
dos mistérios que estão p'ra além das lousas,
onde havemos de entrar antes de velhos.

Outras vezes buscando distracção
leremos bons romances galhofeiros,
gozaremos assim dias inteiros,
formando unicamente um coração.

Beatos ou pagãos, vida à paxá,
nós leremos, aceita este meu voto,
O Flos Sanctorum mistico e devoto
e o laxo Cavaleiro de Faublas..."


A ti Cesário Verde

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