sexta-feira, maio 21, 2004

Querido Pai e Querida Mãe:

Já faz três meses que estou na Universidade e demorei muito tempo a escrever-vos.
Peço desculpa pela demora, mas agora vou colocar as notícias em dia.
Antes de continuar, por favor, sentem-se. Não continuem a ler antes de se sentarem, ok?
Agora já estou melhor.
A fractura e o traumatismo craniano que tive ao pular da janela do meu quarto em chamas, ao chegar aqui, estão praticamente curadas.
Passei só duas semanas no hospital, a minha visão está quase normal e aquelas terríveis dores de cabeça só voltam uma vez por semana.
Como o incêndio foi causado por um descuido meu, teremos que pagar à Universidade 5 mil contos pelos danos causados, mas isso não é nada, pois o importante é que estou vivo.
Felizmente, a empregada que trabalha na lavandaria em frente, viu tudo.
Foi ela quem chamou a ambulância e avisou os bombeiros.
Também me foi visitar ao hospital, e como eu não tinha para onde ir, já que o meu quarto ficou reduzido a cinzas, teve a gentileza de convidar-me a viver com ela.
Na verdade é um quarto no sótão, mas é muito agradável.
Ela tem o dobro da minha idade, estamos perdidamente apaixonados e queremos casar.
Apesar de não termos ainda fixado a data, espero que seja antes que a gravidez seja muito evidente.
Pois é, queridos pais, vou ser papá.
Sabendo que vocês sempre quiseram ser avós, tenho a certeza de que acolherão muito bem as crianças (são trigémeos), com o mesmo amor e carinho que me deram quando eu era pequeno.
A única coisa que ainda está a atrapalhar a nossa relação é uma pequena infecção que a minha noiva apanhou e que nos impede de fazer os exames pré-matrimoniais.
Eu também, por descuido, acabei por me infectar, mas estou melhor com as doses diárias de penicilina que agora estou a tomar.
Sei que vocês a receberão com os braços abertos na nossa família.
Ela é muito amável e, apesar de não ter estudado, tem muita ambição.
Da mesma forma, apesar de não seguir a nossa religião, tenho a certeza que vocês vão ser tolerantes.
Tenho certeza de que a amarão tanto quanto eu.
Como ela tem mais ou menos a sua idade, mãe, tenho a certeza de que se darão muito bem e que se divertirão muito juntas pois, como a casa onde vivemos é muito pequena, pretendo voltar para casa com toda a minha nova família.
Os pais dela também são pessoas muito boas.
Parece que o pai dela foi um marceneiro famoso na aldeia africana de onde eles vieram.
Agora que já sabem de tudo, é preciso que lhes diga que não ocorreu nenhum incêndio, não tive nenhum traumatismo craniano, não estive hospitalizado, não tenho noiva, não tenho sífilis e que não há nenhuma mulher em minha vida.
A verdade é que tirei 0 a física, 2 a matemática, 1 a biologia e quis mostrar-vos que existem coisas bem piores na vida do que notas baixas.

O vosso filho que os ama muito

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