sexta-feira, maio 14, 2004

Recuerdos

Despejo gavetas, esvazio armários, empacoto livros e guardo bocadinhos de tudo em sacos. No meio do meu mundo surgem, entre rascunhos e rabiscos, todas aquelas coisinhas que sofrem o triste fado de nunca terem valor no presente - têm sempre valor no futuro; são aquilo que guardamos porque sabemos que um dia vamos precisar delas, que um dia as vamos querer recordar e ter, mas que nunca nos servem no momento. São pilares das Leis de Murphy.

Descubro uma gaveta em particular. Guarda cartas de amor, bilhetinhos, bilhetes, recordações. Guarda pessoas, sentimentos, lugares que já não sabia serem os meus. Uma porta para o passado, o segredo da eternidade. Para quando a memória me atraiçoar, tenho esta gaveta para me (re)lembrar. A materialização do conceito da saudade aqui, tão perto de mim, tão concreta, tão minha. E eu que sempre a tomei por apenas mais uma gaveta.

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