sexta-feira, junho 18, 2004
A senhora e as amigas da senhora (dos serviços públicos) II
Já o escrevera em tempos (aqui), mas o meu desagrado perante a "senhora e as amigas da senhora (dos serviços públicos)" é algo que não cessa, e cada vez mais protuberante. Na Biblioteca Municipal, hoje, a "senhora" dizia ("berrava" é o termo mais adequado) ao jovem ao meu lado que ele não podia requisitar o livro em questão. O jovem, já ligeiramente embaraçado com a situação, visto estar a ser censurado como se tivesse entrado em roupa interior na Biblioteca e a gritar "olé olé viva as galinhas pretas", perguntou a medo o porquê de não poder requisitar o livro. Ainda estava ele a acabar a frase (e eu ouvi, ele estava a dizer "que é para da próxima vez não repetir e saber quais os livros que não se podem requisitar"), já a "senhora" se virava para as "amigas da senhora" e, com as duas mãos agarradas à cintura (tal qual sitcom portuguesa do início dos anos 90, com o Nicolau Breyner, naquele preciso momento em que vai sair a piadinha fácil e os actores se põem em pose de "peixeira-não-do-bolhão-mas-sim-de-uma-qualquer-feira-alfacinha-com-combinação-de-toda-e-qualquer-pose-de-actriz-de-revista" e repetem aos berros e vezes sem conta a mesma expressão brejeira) começou a vociferar em tom jocoso se ele não teria lido "cota 0 820 JYC 45687", pois estava lá explícito que ele não podia levar o livro, porque estava lá UM ZERO. Gozou com o jovem até mais não, com algo que ela não compreendia como é que ele não podia saber de cor (afinal de contas, o zero é tudo - coitadinhos dos romanos e viva os árabes), nunca lhe olhou para os olhos pois estava mais interessada em berrar para toda a Biblioteca e rir-se com as aldeãs colegas ao lado dela. O rapaz saíu, humilhado. A "senhora e as amigas da senhora (dos serviços públicos) sentaram-se, e leram a Maria.