sexta-feira, julho 30, 2004

Amor saudade música

O amor existe, e é a sensação mais indescritível de todas. A minha namorada e eu conseguimos inventar um fim de semana a meio desta semana que termina, e posso jurar-vos a pés juntos que o tempo parou, por mais que uma vez, e sempre com bocadinhos de tudo aquilo que não se escreve nem se lê, não se cheira nem se sente, existe apenas e nós sabemos que sim quando acontecem em nós.
 
Uma despedida custa sempre. Às vezes um "até já" dói tanto como um "adeus", e quem já olhou olhos nos olhos (os da alma, inclusivé) sabe-o. Hoje fomos almoçar juntos. O Mondego como pano de fundo, o sol como espectador, eu e ela como actores principais e tudo o resto cenário, em função de nós. Recordo assim e agora: na altura, tudo o resto era paisagem. Seguimos abraçados até ao banco do jardim onde, umas dezenas de anos antes, os meus pais se abraçaram pela primeira vez e confessaram amor eterno; ela não sabia e eu só o descobri quando, deitado sobre as pernas dela, vislumbrei que passado este tempo todo o banco ainda tinha cravado na madeira, naquele bocadinho especial, Elísio e Paula. Guardei segredo. À sombra, entre conversas e tudo o mais, perdemos o tempo vezes sem conta; e quando o reencontrávamos, ele tinha voltado um bocadinho para trás, como se Deus, o eterno voyeur, nos fizésse o favor. Comentámos isso. Por fim, peguei nas malas dela, e levei-a à paragem.
 
"Vou ter saudades tuas.
Posso escrever-te no Moleskine?"
 
E escreveu.
"Sê o meu sonho.."
 
O que escrevo é verídico.
Às portas da estação, beijámo-nos, abraçámo-nos, rimo-nos como se fosse tudo normal e a nossa maturidade tivesse o dever de aguentar, dissemos adeus mais uma vez, beijámo-nos de novo, virei-lhe as costas e fui-me embora. Com um último sorriso (um dela, outro meu, e ainda um nosso) virei-me e fui em direcção à estrada. O primeiro passo no alcatrão causou-me um aperto no coração que me impeliu reflexamente a voltar para trás. Cabisbaixa, cheguei a ela 15 segundos depois do último adeus, e a tempo de a pegar pela cintura e virá-la para mim, já escorria a primeira lágrima.
 
"Também sentiste o aperto?", perguntou-me (e eu nem tinha dito ainda uma palavra que fosse).
 
Abraçei-a com força, e ao sentir as primeiras lágrimas a tocarem-me o pescoço, cantei-lhe ao ouvido "Unforgettable in every way, And forever more, that's how you'll stay, That's why, darling, it's incredible, That someone so unforgettable, Thinks that I am unforgettable too", enquanto dançávamos devagarinho, romanticamente, à direita do Mondego.
 
São assim os meus dias e as minhas noites, desde que embarquei nesta aventura a dois: inesquecíveis.

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