domingo, julho 25, 2004

Um senhor

Uma noite destas pensava eu nas palavras de uma amiga minha, "chorei perdidamente quando a Sophia [de Mello Breyner] morreu". Apesar de ser das escritoras portuguesas que mais aprecio, confesso que me custou um pouco... não sei se o interiorizar dessas palavras, se o entendê-las, no momento. No dia a seguir, Carlos Paredes morreu. E que bofetada foi. Custa tanto ver partir assim alguém... nem a certeza de que partiu em paz consola... há pessoas que são imortais e é irreal morrerem. Não podem. Não morrem, é certo, vivem através das memórias e pela sua obra. Mas, e por isso mesmo, morrer não é deles, não é para eles. E quando acontece, é tudo mais esquisito, como se sair de casa e ver o mundo ao contrário fosse tão de esperar como o Sol espirrar ou crescerem dedos do pé nas estradas ou nos prédios. E chora-se, chora-se,  chora-se, foge-se, chora-se, foge-se. Fico irritado quando leio homenagens a Carlos Paredes, não toquem na memória dele, não digam que ele morreu, não digam que ele vos marcou, que vive através da música, que foi um génio. Não. Deixem-me ser egoísta, deixem-me ser só eu o apreciador, o aluno, o único. De luto.
 
De luto.
De luto.
De luto.

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