domingo, agosto 22, 2004

Munch

Foram roubados, do Museu Munch em Oslo, dois dos mais importantes e característicos quadros de Edvard Munch, pintor modernista norueguês de grande relevância para o nascimento do movimento Expressionista do século vinte: o "O Grito" (pintado em 1893, um dos quadros que compõe a série "Friso da Vida", onde a Doença, a Ansiedade, a Morte e o Amor são as temáticas centrais) e o "Madonna". O "O Grito" é, de longe, o meu quadro preferido de sempre, seja pelas linhas, pelo sentimento, pelo grito que se ouve, pela expressão, pelas cores incandescentes, pela minha própria obsessão com a vida, com a morte e com a fatalidade a que estamos remetidos (pequenas loucuras que partilho com Munch de cada vez que olho para a sua obra); mas principalmente pelo que se sente ao olhar para este quadro - quem nunca se deixou impressionar por ele, provavelmente nunca se deixou impressionar pela vida. Munch vivera obcecado pela morte desde muito novo, fruto da morte da mãe e da irmã, vítimas de tuberculose, e isso reflecte-se na sua obra, na sua angústia, na idade imberbe com que pintou o "O Grito": apenas vinte anos. Reparem como aos vinte anos já nutre um profundo desgosto e desespero, um medo de um mundo que não é o dele, onde tudo é disforme e à espera de o arrebatar. Munch vivia assustado. E era pela pintura que tentava exorcizar os medos, os demónios, que adiava a Morte e a Doença.

Os assaltantes, entraram, pegaram nos quadros e saíram; nem um alarme, nem um sistema de vigilância e/ou de protecção das obras, nada. Os quadros estavam presos à parede por um arame, e os ladrões só tiveram que os puxar. Tudo em tempo recorde, visto que quando a polícia chegou, quinze minutos depois, já não havia rasto dos criminosos. As obras estão em papel muito frágil. Esperemos que, tal como em Fevereiro de 1994, o quadro seja recuperado intacto.

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