sexta-feira, setembro 03, 2004
Lisboa - Frankfurt - Helsínquia
As nossas vidas são feitas de momentos e de uma constante adaptação aos mesmos. Como não há um período bem definido de transição entre momentos (até pela infinita diversidade do tipo de momentos e da variável duração destes), existem dois pontos a considerar: primeiro, que há adaptações mais ou menos fáceis e mais ou menos difíceis; consequentemente, existem adaptações que têm de constituir, necessariamente, um processo de gradação nítido e rigoroso, sob perigo de se tornarem ou ineficazes ou perniciosos.
Parto para Helsínquia dentro de quatro horas e uns minutos. Já há algum tempo que vinha a trabalhar a minha transição do momento "Férias" para o momento "Rotina do dia-a-dia" e embora não tenha sido o início de transição mais produtivo, ia bem encaminhado. De qualquer maneira é complicado conseguir agora a contra-transição que consiste, precisamente, no retornar ao momento "Férias", que por sua vez ainda não está totalmente ultrapassado, sendo mais difícil de identificar e eliminar as nuances do momento "Rotina do dia-a-dia".
Para evitar estas quezílias interiores, prefiro deixar-me em Coimbra e deixar partir para Helsínquia o outro. Je est un autre, já dizia Rimbaud. Assim se faça, como manda o libertino. O jamiroo fica, resolve-se. Mas o jamiroo parte, sozinho e vazio, leva consigo o Nietzsche, a Ute Ehrhardt e o Javier Marías (que por si só já leva uma série de amigos...); o resto, como o amor, as saudades, a tristeza, a alegria, e o caderninho preto onde o amor escreve os seus epitáfios, ficam com o jamiroo. O de cá, não o de lá. Parte em nirvana, para que se construa, para que durante uma semana seja o concretizar do esboço de tantos anos. Parte em silêncio. Mas parte.