sábado, outubro 23, 2004
Eu é que sou o Bartleby
Eu sou (mais um) Bartleby. Não um dos Bartleby daqui ou daqui, mas daqueles que estão enclausurados num quarto e em si mesmos. Daqueles que, tal como o Bartleby de Melville, sempre que têm de responder perante o mundo, dizem invariavelmente "prefiro não o fazer". E é esta cultura do Não que tem feito parte de mim, e que leva que as minhas passagens aqui pela "A Tasca" sejam tão efémeras e rarefeitas como os sorrisos que eu queria mostrar e não surgem. Sou uma sombra de mim mesmo enquanto Elísio e enquanto Jamiroo. São coisas que só me interessam a mim, mas o facto é que estou mal comigo mesmo, as coisas más parece que só acontecem às (boas) pessoas à minha volta, e já não tenho nem humildade nem arrogância nem tristeza nem réstia de qualquer sentimento que pudesse servir de rastilho a acordar, a sair de mim e a escrever (que saudades)...
Às vezes penso que sobreviver é mesmo isto: perdermo-nos completamente e unir tudo o que é nosso e todo o nosso tempo, na breve esperança de que a cada segundo que passa é um segundo a menos no tempo que resta para o fim de toda a maldade que nos acerca, nos fita e nos consome. Gosto de ti, Lília. Gosto de ti, Mãe. Gostei de mim, Elísio.
Às vezes penso que sobreviver é mesmo isto: perdermo-nos completamente e unir tudo o que é nosso e todo o nosso tempo, na breve esperança de que a cada segundo que passa é um segundo a menos no tempo que resta para o fim de toda a maldade que nos acerca, nos fita e nos consome. Gosto de ti, Lília. Gosto de ti, Mãe. Gostei de mim, Elísio.